Desci a serra até Japeri para pegar o trem das 10h para a Central do Brasil. Senti-me em Londres, tal a pontualidade. O trem partiu, vazio e limpo, exatamente às 10h. Logo na próxima estação, muitas pessoas entraram. Vendedores disfarçados, já que era proibida a  venda nos trens, começaram seus trabalhos. Vendiam de tudo um pouco. Desde água a socadores de alho.  A moça ao lado conversava com outra, sobre o marido da vizinha que estava "dando" em cima dela. Uma senhora à frente, parecia nordestina, falava para um rapaz que sua neta estava "ficando" com um cantor de Rap. Uma moça, quase que adolescente, dava de mamar a uma pequena menina que, ora bebericava no bico do peito, que ficava à mostra, ora corria pelo vagão gritando pra mãe comprar a bonequinha da vendedora de brinquedos. Muitos se distraiam  com seus celulares. Agulhas, balas, coadores de café e cds para todos os gostos. Empadinhas de camarão e palmito a 2,00 , o rapaz de amarelo gritava. De repente o ar esquentou. Nem de longe pensei em calor humano. Ao redor, nove em cada dez homens bebiam das cervejas geladas, que os rapazes de preto vendiam
e as latas vazias, embora com algumas lixeiras no vagão, eram jogadas pelas janelas. De repente deu-me uma vontade imensa de pegar um microfone e sair perguntando os dados de cada um, nome, onde morava, o que fazia, enfim, não fosse a bolsa que eu levara vazia, quando embarquei e agora, recheada, inclusive com uma parabólica dobrável, percebi que não havia sonhado. Levantei-me e, tentando me desviar das embalagens de biscoitos e bananadas espalhadas pelo chão, consegui descer na estação final. Só ali percebi que estava no Brasil, Central do Brasil, Rio de Janeiro ! Quiçá para muitos, como era para mim há uns tantos anos, essa continue sendo a viagem dos sonhos.... Uma fantástica Viagem no Trem da Central do Brasil!
Jandiel
Jandira leite titonel