Jandira Leite Titonel e seus sentidos
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena
Textos
Um, dois, alguns casos.

Ester e Ditinha estavam conversando no portão quando eu cheguei esbaforida contando que o menino que estava querendo me namorar, encostou a mão no meu peito e eu saí correndo...ei disse: - Ufa me livrei! Elas se entreolharam e riram. Houve uma época em que Ditinha só falava em um tal de "fofinho".  Acho que elas já tinham idade pra namorar ... Mais tarde, Ditinha casou-se com Adilson, o tal  fofinho. Ariete e Ary já eram "um pouquinho" mais velhos que nós, não brincavam com a gente, quase nem  apareciam. Tia Dinorah e vó Ester, têm um lugarzinho cativo no cantinho do meu coração. Enfim, todos dessa familia  fazem parte da minha memória afetiva. Vó Ester, cabelos branquinhos, atravessava a rua pra buscar pão e leite na padaria, enquanto eu e Ditinha brincávamos. Depois, vó Ester fazia um ovinho frito e nos chamava para o café! Eu me sentia toda sua neta.  Tia Zaíra, quando passava, fazia  eu me sentir importante , dizendo -  Oi, menina! Lembro da face de cada um deles! Meus tios emprestados!   Ademar e Irene....  Tia Marieta, que era a  tia "Tita" ,  tio Nelson ! As  meninas Sônia e Verinha, geralmente apareciam, nos fins de semana. Quantas lembranças! Ah, como eu gostava também do balanço que havia no quintal. Acho que foi ali, no balanço, que comecei a viajar e imaginar tantas histórias. Edna,  Tidinho..... Ei, Esther, Edna ,Ariete, venham aqui em casa passar,  um fim de semana, vamos matcar um dngobtto festivo, enquanto podemos nos reconhecer!  Aquele tempo foi um período muito importante da minha vida. Dois anos eu tinha quando meu pai faleceu e a vizinhança toda das redondezas de Honório Gurgel, era como  uma só família. Sempre quando eu precisava ir ao médico ou ao posto para tomar as vacinas ou até mesmo acompanhar minha mãe à casa de alguma amiga, lá ia eu, com as roupinhas e sapatos, emprestados, da Ditinha. Quando me lembro então dos nossos risos fartos!  Vilma e Ditinha, ainda hoje, juram, de pés juntos, que era eu a causadora de tantos risos . Verdade seja dita eu, sempre que tinha brecha, contava tantas piadas ou causos até tarde da noite... Ditinha, minha amiguinha desde os tempos de fraldas, enquanto que a  Vilma nos conhecemos no  tempo do ginásio, no CEBR, no Méier. Nessa altura eu já morava em Quintino, na Cupertino, pertinho do Zico, que sinda nem sonhava ir pro  Flamengo. Certa vez, eu e Vilma  voltávamos do colégio, descendo as escadas da estação de trem, no Méier, comecei a contar uma piada... Certo dia, um pai observava seu filhote, descendo do escorrega e, sempre que o menino ia até ele e falava qualquer coisa, sem qualquer motivo, o pai dava-lhe um tabefe na cabeça. Isso aconteceu várias vezes até que uma senhora incomodada com aqueles "tapinhas" , quis saber o porquê. - Coitado do menino!  Ela disse. Porque bate tanto na cabeça do pobrezinho ? O homem, olhando nos olhos da senhora gritou : -  "Coitada é da mãe dele!" ;Destruiu minha esposa, na hora de nascer com essa cabeça tão grande!
Ainda estávamos rindo da piada quando, no banco da estação, um homem com um menino com uma fralda enrolada da cabeça ao pescoço, talvez estivesse  com "cachumba" , comum na época.  Eu e Vilma nos entreolhamos  e,  as gargalhadas vieram   à toda. O trem chegou e,  já  dentro  do vagão, era  impossível parar com  os risos e gargslhadas. Nossos sapatos se ensoparam  com o líquido que escorria pernas abaixo. Na estação seguinte, entrou uma turma de meninos do Colégio Pedro II. A essa altura já haviam duas poças em volta de nós. Decidimos  descer, às pressas, logo na próxima estação, embora não sendo a nossa. Só para fugir da situação. Quando a porta se abriu, descemos em disparada. Antes mesmo das portas se fecharem, garotos do Pedro II   gritaram ...."Falam, mijonas !" Fizemos, à pé,  o percurso que nos faltava,
Com a Ditinha não  goi diferente, só  mudou de lugar. Em sala de aula, na casa de um professor de matemática onde, de vez em quando sua avó aparecia para ver se ele  precisava de algo ou apenas para observar. Ela era alemã e só conversavam em alemão. Não entendíamos nada do que falavam e  começávamos a rir. E, cada vez que a senhora aparecia na porta, os risos aumentavam. Pedi um copo dágua, só para que o professor saísse da sala. O xixi começou  a  transbordar pelo banco. Tratamos de levantar e sair correndo, antes  que o professor voltasse com o copo d'água...

Jandiel
Jandira Leite Titonel
jandiel
Enviado por jandiel em 18/11/2021
Alterado em 13/03/2024
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