Jandira Leite Titonel e seus sentidos
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena
Textos
Viver na Corda bamba
Há algum tempo Anna decidiu congelar as lágrimas por repisar peripécias de um período que se arrastou por uma vida inteira mas que, embora gratificante e insatisfazível, infringia um dos mandamentos  de Deus e, segundo as leis divinas, basta a quebra  de  um  dos dez mandamentos para que se tenha  a  culpa dos  outros nove. Só os humanos têm distinção de pecados.
Já era quase noite quando o telefone tocou. Era o amor antigo, verdadeiro, já se conheciam de cor e salteado. O coração de Anna  disparou.
- Anna?
- Sim, eu!
- Como você está?
- Estou bem e você?
- Eu vou  indo  com  saudades, todas as noites, todos os dias...Preciso te ver!
Meu Deus, tanta coisa ela quis dizer mas, apenas, balbuciou:
- Outro dia a gente se fala!
E desligou.
As lágrimas degelaram e ela chorou um choro copioso que não a deixou dormir naquela noite.
Anna lembrou que foi ela quem decidiu dar um fim na história que fizeram, afinal, há muito já dormiam em outros braços.

Uma saudade gostosa  surgiu com fulgor e a fez ver que  era essa saudade que alimentava  sua alma. O brilho em seus olhos e os saltitares  encantados só escondiam o porquê que muitos tentavam  desvendar mas não conseguiam encontrar a raiz. Uma vida inteira pisando em ovos.

Muitas vezes um  estado inquietante a fez pensar porque se pode amar o rosa, o azul, um arco-íris enfim, mas essas normas só faziam atormentar.

E, pelo bem alheio seguiram dormindo em outros braços, até que a morte os una novamente.

Jandiel
Jandira Leite Titonel


jandiel
Enviado por jandiel em 01/03/2024
Alterado em 02/03/2024
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